Sugestões de Leitura - Março


A nossa proposta para este mês recai sobre um dos trabalhos de João Manuel Ribeiro, um dos convidados do encontro realizado na nossa escola, no passado dia 24 de Fevereiro, no âmbito das Correntes D’Escrita.

Título: Meu Avô, Rei de Coisa Pouca
Autor: João Manuel Ribeiro
Ilustradora: Catarina Pinto
Editora: Trinta por uma linha
Sinopse: «A obra Meu Avô, Rei de Coisa Pouca, como o título faz prever, centra-se na figura de um avô muito especial cujo retrato começa a desenhar-se, directa e indirectamente, logo na abertura da narrativa: «A casa da eira era o palácio do avô.» Grandioso, sem ser rei, rico sem grandes posses… Rei de coisa pouca, enfim.

Sobre o autor: Nasceu em Oliveira de Azeméis, em 1968.
É licenciado em Teologia.
Mestre em Teologia Sistemática pela Faculdade de Teologia do Porto, da Universidade Católica Portuguesa.
Mestre em Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.
Recentemente tem-se dedicado à escrita para crianças.
Neste campo publicou: Estrela e Príncipe da Paz (2005), O Encanta Pardais Voador (2006), O Natal do Ratinho Daniel e outros versos (2006), Rondel de Rimas para Meninos e Meninas (2008), A Menina das Rosas (2008), (Im)Provérbios (2008), Poemas da Bicharada (2008), Um, dois, três - Um mês de cada vez (2008), Poemas para Brincalhar (2009) e Alfabeto de Adivinhas (2009), Pontos sem nó (2009), Gémeos (2009), A Casa Grande (2009), Romanceiro de Natal (2009, com Vergílio Alberto Vieira).
Publicou ainda os seguintes livros de poesia: Regras do mel e da flor (2002), Amores quase perfeitos e outras arritmias (2002), Livro de Explicações (2003), A circulação precoce dos relâmpagos (2007), O Anjo acocorado (2009), Trajectória inconsútil do desejo (2009)
Sobre a Ilustradora: Designer de formação e estreante na arte da ilustração de livros para a infância com este título.
A Equipa da BE/CRE
Bibliografia:

Comentários

  1. Este livro é do autor João Manuel Ribeiro, com ilustrações de Catarina Pinto.



    Aqui fica uma breve síntese do livro:

    «A obra Meu Avô, Rei de Coisa Pouca, como o título faz prever, centra-se numa figura cujo retrato começa a desenhar-se, directa e indirectamente, logo na abertura da narrativa ou no incipit: «A casa da eira era o palácio do avô. Nela tinha o seu trono, guardava a sua coroa e retinha os seus tesouros. Na verdade, era apenas um espigueiro antigo de granito. Mas não era o palácio que o tornava rei, era a sua condição de senhor de terras e céus, bichos e chuvas, ventos e aragens, romãs e bonecas de trigo. (...) De aspecto, o avô nada tinha de parecido com um rei. Era um homem simples, afeito ao trabalho, que se dividia entre a metalurgia e a agricultura, alto, ombros largos, cara de anjo papudo, com sulcos que o tempo foi esgravatando, mãos enormes, pés firmes.» (Ribeiro, 2011: 9). A metáfora anunciada pelo título prolonga-se ao longo de todo o relato e inúmeras associações transfiguradoras do protagonista a um rei acompanham também identificações como, por exemplo, casa da eira-palácio ou bicicleta-cavalo alado. Estas associações estendem-se ao discurso visual da publicação, da autoria de Catarina Pinto, e este, composto a partir de uma técnica mista (recorte, colagem, fotografia, etc.), cria a ilusão de diferentes texturas e perspectivas. Logo desde a capa e contracapa (que formam uma unidade semântica e que, pela representação, não isenta de uma significativa carga simbólica, de uma árvore e do herói da narrativa determinam um especial «horizonte de expectativas»), passando pelas guardas da publicação, até às imagens do miolo do volume, as ilustrações dão conta do carácter maravilhoso de certos momentos diegéticos, da forte presença do elementos naturalistas, da profunda ligação afectiva entre as personagens e do tratamento de temáticas intemporais.



    Diana Lemos nº12 6ºB

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  2. Continuação do último comentário:
    Dos títulos dos nove capítulos que compõem a obra – «O cavalo alado», «O tamanho do reino», «A romãzeira e a menina», «O baile das bonecas de trigo», «O amigo da bicharada», «O mapa dos segredos» «O rio da vida», «Os últimos dias» e «Os idos dias que hão-de vir» –, bem como das ilustrações em páginas duplas que antecedem cada um deles, sobrelevam alguns dos topoi e dos aspectos simbólicos mais importantes da narrativa e, se fosse imprescindível a identificação de um leitmotiv da obra, diria que este possui uma dupla acepção, partilhando o ser humano e a natureza (e o seus ciclos) o lugar central. Com efeito, o homem impregnado de natureza e a natureza espelho do homem (numa relação de simbiose, por vezes, de contornos telúricos) afiguram-se os pilares que sustentam quer a (re)construção ficcional do avô João, quer a própria arquitectura do espaço, nas suas dimensões física, psicológica e social.

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  3. Continuação do último comemtário:

    O amor, que «serve para temperar todas as coisas» (idem, ibidem: 21), como se diz no texto, o amor aqui dado a conhecer em múltiplas vertentes – o amor do neto pelo avô, o amor do rei-avô pela sua rainha ou o amor à natureza, à terra-mãe ou «às coisas simples e pequenas» (idem, ibidem) –, releva da totalidade da obra, distinguindo-se como um dos eixos semânticos estruturantes da acção. O tom sentencioso e o carácter lapidar de certas expressões, mais recorrentes e evidentes à medida que a acção se aproxima do desenlace, denunciam uma especial atitude filosófica e existencial, em alguns momentos, muito próxima de correntes clássicas como o epicurismo – «A aceitação de que a vida é o que é, e assim é que é (...)» (idem, ibidem: 76) –, propondo-se, a cada instante, uma reflexão sobre a vida e a sua passagem, sobre a morte, sobre o tempo, sobre a memória, entre outros.

    Referências histórico-culturais e literárias – estas últimas reflectidas, por vezes, na alusão a textos ou a partes de textos da literatura tradicional/oral) – perpassam toda a obra (Batalha de La Lys e a Primeira Guerra Mundial, Pégaso, a Bíblia, Federico Garcia Lorca, a ilha dos amores ou Alberto Caeiro), a par da presença significativa de vivências, costumes e hábitos do quotidiano rural (como, por exemplo, a desfolhada, motivo nuclear do capítulo intitulado «O baile das bonecas de trigo»), estimulam a leitura e promovem um convívio com uma cultura que reúne o universal e o local, o colectivo e o individual ou, ainda, o passado e o presente.

    A criatividade da linguagem de João Manuel Ribeiro traduz-se, por exemplo, nas enumerações de elementos da natureza, descritos num registo que dá conta da visão sensorial do autor/narrador. Na verdade, a adjectivação abundante e as recorrentes metáforas contribuem para um descritivismo especial, que explora as potencialidades semânticas de um sensorialismo e/ou de um visualismo muito envolventes. Globalmente, Meu Avô Rei de Coisa Pouca caracteriza-se pela sua escrita bem ritmada – releia-se a afirmação «O ritmo que ponho em cada história que escrevo levanta-se de um baile com bonecas de trigo» (idem, ibidem: 76) –, com uma cadência própria, que desvela, com delicadeza e discrição, uma singular percepção do mundo, da vida, do eu e dos outros. Estas e outras características, que o espaço e o tempo desta intervenção não permitem questionar, mas que, no texto, surgem sintetizadas na expressão «jeito de tricotar paisagens com palavras e versos» (idem, ibidem: 76), podem ser comprovadas em excertos como o seguinte: «E deixei-me arrastar pelo corpo tenor de uma após outra boneca de trigo, que se agitavam agilmente, numa ronda de passos, gestos e sorrisos. E se a música nos acelerava, o rodopio era intenso, ao redor do corpo de cada boneca, ora permanecendo ora trocando de par, indo ao centro, voltando à roda, dobrando os joelhos em inclinação, erguendo os braços em aclamação. E as bonecas, fosse pela correria, fosse por qualquer outra magia do avô, iam adquirindo o corpo de formosas donzelas que nos afagavam os cabelos e cobriam de beijos e carícias.» (idem, ibidem: 38).»



    P.S.: Informação retirada do blogue da editora: http://editoratrintaporumalinha.blogspot.com/

    Podes encomendar e encontrar toda a informação da editora no blogue mencionado em cima ou no seu site: http://www.trintaporumalinha.com/

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  4. Olá, Diana!

    És uma aluna muto trabalhadora.
    Obrigado pela tua ajuda!

    A Equipa da BE/CRE

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