Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas


145 - ( Desalento do Poeta. Censuras `a Pátria  )

      Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho
      Destemperada e a voz enrouquecida,
      E não do canto, mas de ver que venho
      Cantar a gente surda e endurecida.
      O favor com que mais se acende o engenho
      Não no dá a pátria, não, que está metida
      No gosto da cobiça e na rudeza
      Düa ustera, apagada e vil tristeza.
...

156 - ( " Para cantar - vos, mente às Musas dada " ) 

      Ou fazendo que, mais que a de Medusa,
      A vista vossa tema o monte Atlante,
      Ou rompendo nos campos de Ampelusa
      Os muros de Marrocos e Trudante,
      A minha já estimada e leda Musa
      Fico que em todo o mundo de vós cante,
      De sorte que Alexandro em vós se veja,
      Sem à dita de Aquiles ter enveja.
                                                      Excertos do Epílogo de «Os Lusíadas», Luís Vaz de Camões

«Os Lusíadas», essa grande obra que serve de símbolo identificativo dos portugueses e na qual é exaltado o seu passado glorioso, em que arreigada e  corajosamente se aventurou «por mares nunca de antes navegados» em empreendimentos que o levaram a crescer  de uma forma surpreendente  a  vários níveis (científica, cultural, económica, geográfica e politicamente) destacando-o de outros povos evoluídos de então, recordamos  sobretudo o epílogo do Canto X. 
Uma leitura mais atenta sobre as estrofes que o compõem (da 145 à 156), elucidam-nos sobre o desalento do poeta em relação às injustiças de que foi alvo, por acção do próprio Reino que tão humilde e dedicadamente serviu, e em relação  ao enfraquecimento do espírito arrojado que  projectou o povo  na empresa de expansão dos horizontes do país. É ainda reforçada a dedicatória da obra  ao então rei, D. Sebastião, afirmada no Canto I, aproveitando o poeta para o aconselhar a governar de acordo com o exemplo e acção dos melhores, com justiça, fazendo os possíveis por premiar apenas quem merece, continuando o seu trabalho de expansão com bravura e inteligência de modo a merecer ser lembrado num cântico eterno de glória.
Longe vão os tempos dos Descobrimentos, mas a mensagem da obra pode abrir, também, espaço a uma  interpretação mais consentânea com a realidade do nosso tempo...
O conselho que Camões deixa ao seu rei, não deixa de ser um apelo continuamente renovado, ao longo dos séculos, ao povo português e aos seus representantes. É preciso coragem para  fazer mudanças, mas ,mais que tudo, espírito aberto, de cooperação, liberto de invejas mesquinhas, e inteligência para entender e enfrentar as transformações que se processam no país (e no mundo!) e as suas consequências nas vidas futuras dos portugueses.
Exijamos a expansão dos horizontes culturais do nosso povo e o desenvolvimento da capacidade de pensar e agir da nossa  gente, sobretudo dos mais novos, para que sejamos capazes  de reconquistar a dignidade e gloria que um dia nos colocaram entre os países mais desenvolvidos do mundo.

Viajemos pelo «Museu da Presidência da República» virtual, para recordar as imagens que nos remetem para os acontecimentos, instrumentos, documentos e personalidades que hoje comemoramos. 



Sugestão de leitura:
 «Os Lusíadas» – Obra Integral: http://purl.pt/1

A Equipa da BE/CRE



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